27 maio 2012

Javi Garcia

O jogador espanhol não se sente atraído pelo campeonato português. Tem um campeonato de forte consumo interno, onde as grandes pérolas são rapidamente absorvidas por um Barça ou um Real, ou os de média-alta qualidade enriquecem os planteis das segundas linhas como Valencia, Atletico, ou Sevilla. A estrutura da restante competição é consideravelmente mais rica, mais apetecível, mais visível. Não é com estranheza portanto que raros são os (bons) nomes que saem de lá - à excepção da Liga Inglesa. Mais raro ainda é vê-los a mudarem-se para Portugal.

Curiosamente os últimos anos contrariam está história. Em poucos anos vimos um Reyes a fazer bom jogos na Luz; um Capel à procura de uma confirmação esquecida em Espanha; um Nolito e um Jeffren resgatados das reservas do Barcelona mas com sortes diferentes; um Rodrigo vindo do Real Madrid Castilla mas já uma referência no ataque dos jovens espanhóis; um Capdevila em rota descendente mas com carimbo de campeão mundial e europeu. No meio de todas estas histórias talvez a que menos se destacava seria a de Javi, apesar da sua escola em Madrid e percurso nas camadas jovens. Um juízo superficial, fruto da injustiça da posição e do reduzido número de golos no Youtube. Sim, o leigo treinador de bancada tem destes momentos.

Javi soube agarrar o lugar e o coração do terceiro anel em poucos meses. Peça fundamental no onze campeão, em três anos de Benfica torna-se um dos pilares do plantel, tanto pela garra, pela entrega, pela qualidade do seu futebol e bom disposição que transparece. O final de temporada foi talvez a sua pior fase no clube, que em nada abafa o seu excelente percurso, sobretudo na Champions, coroado com o canto do cisne em Stamford Bridge.

Fruto do que fez pelo Benfica e do que o Benfica fez por ele, Javi fez algo inédito: do zero, cresceu em Portugal, e conseguiu entrar num grupo restrito de jogadores seleccionáveis para a melhor selecção actual, campeã do Mundo e da Europa. Um grupo recheado de jogadores da considerada melhor equipa da história. Um deles, Busquets ocupa a sua posição. Intocável. Restava-lhe lutar por um lugar também ocupado por Xavi Alonso com missões mais defensivas. Ganhou a versatilidade de outro Javi, o Martinez, que não só fez uma excelente temporada em Bilbau, como ocupa facilmente a posição de central. Javi não entrou nos 23.

A gargalha generalizada pelas redes sociais é triste. Não se percebe. Não compreender o que Javi / Benfica ganhou esta semana é de uma limitação atroz de quem das duas uma: ou não tem mais nada para celebrar, ou prefere bater palmas à "estrela" da pior selecção brasileira que há memória em 30 anos (na sua versão Olímpica).

Felicitaciones Javi!